Continuamos nossa saga abordando a ambientação, um dos principais elementos de qualquer narrativa. Esta é uma série de artigos visando dar a devida importência ao assunto, sendo que muitos ainda dedicam pouco tempo a ele. Talvez você queira imprimir essa série, guardar nos favoritos e compartilhar com pessoas que tem o mesmo interesse que você em escrever e contar histórias. Caso ainda não tenha lido o artigo anterior, não deixe de conferir antes de prosseguir a leitura.
Os artigos já publicados são:
1 – O que é Ambientação?
2 – A Pesquisa na Ambientação – Parte 1
3 – 11 Dicas de Ambientação Para Roteiristas
Longe de ser uma lista definitiva, cito alguns princípios e conselhos básicos para se tornar apto a ambientar uma história.
1 – Observe o mundo à sua volta
Como sempre tenho dito acerca dos personagens estarem literalmente ao seu lado, no mundo à sua volta, reforço esse mesmo princípio para a ambientação. Você não pode criar um mundo convincente sem antes conhecer e compreender o mundo em que você mesmo vive.
2 – Questione o mundo em que vive
Normalmente, por ser o mundo onde passamos toda a nossa vida, nos acostumamos a ele e consideramos saber tudo a respeito, quando a verdade é que apenas nos conformamos com as coisas como elas são. Sabe aquelas coisas que você conhece desde que se entende por gente mas nunca parou pra pensar em por que as coisas são assim depois da adolescência? Questione as coisas que parecem óbvias e você não tenha resposta para algumas delas. Por que vivemos em família? Por que temos que ir à escola? Por que elegemos um presidente? Por que vamos à igreja? Por que precisamos de dinheiro? Por que o céu é azul?
3 – Reinvente o mundo
Depois de dar uma resposta significativa às perguntas sugeridas no tópico anterior, dê respostas diferentes que reinventem o mundo à sua maneira, mas de forma convincente e que possa ser explicada. Ex: Por que o céu é azul? Porque ele é um cenário de TV que foi pintado para enganar você (Show de Truman)
4 – Explore seus sensores
Faz parte da ambientação tudo o que envolve os cinco sentidos. Sons, cores, texturas, gostos, odores. Explore-os nas coisas comuns do seu dia-a-dia. Examine e compreenda o suficiente para reproduzi-los com exatidão em suas páginas quando for necessário.
5 – Estude outras culturas
A maioria dos autores de ficção utilizam diversas culturas e as recriam. Para isso, não basta um estereótipo cultural, como simplesmente colocar roupas ou arquitetura características ou você acabará por ser incoerente. Estude a fundo as origens dos costumes, as etapas do desenvolvimento, o pensamento, a filosofia, a religião, economia e sociedade locais. Só observando o conjunto é que os elementos individualmente farão sentido. Saiba criar essas dependencias nas suas histórias.
6 – Estude arquitetura
Não precisa ter um diploma, mas uma noção básica ajuda a não confundir o modelo islâmico com mourisco, gótico com bizantino e modernista com futurista. Ajudará você a decidir onde ficará a porta de entrada, as janelas, o banheiro… pois tudo deve ser planejado e nada é aleatório. Te dará maior noção de formatos e estrutura, suficiente para você não fazer todas as casas iguaizinhas. Por fim, te impedirá de desenhar uma casa impossível de ficar em pé. Em minha história Grayest Days, retrato uma cidade fictícia onde parte da arquitetura foi um reflexo da Gründerzeit alemã, o período pós-revolução industrial, e parte baseado em Veneza. Isso define certas regras que precisam ser seguidas sempre que traçar o design de um prédio, loja ou casa e determina o “clima” visual da cidade.
7 – Estude design de interiores
Não é coisa de mulher. Isso lhe facilitará muito a criar o ambiente familiar dos personagens da história. Muito do estilo de vida e classe social pode ser retratado no design. É um conhecimento valioso se bem aproveitado.
8 – Explore diferentes etnias
É muito comum autores inexperientes padronizarem a etnia dos personagens ou até mesmo o tipo físico – todos altos, de olhos azuis e cabelos lisos. Diversificação racial faz parte da ambientação da história. Em minha HQ Grayest Days, os habitantes são essencialmente descendentes de alemães, ingleses e italianos, e tudo isso influencia no rumo em que a história toma.
9 – Não tente ser um novo Tolkien
Muitos autores, principalmente de Fantasia e Ficção Científica procuram criar uma ambientação extremamente detalhada, incluindo idiomas artificiais, mapas, políticas complexas, mitologia recheada de deuses, espíritos, templos e fiéis, culturas com minuciosas descrições e mais um amontoado de pormenores que deixam a história em segundo plano. Se você não tem experiencia o suficiente e se sua história não exige tal nível de detalhes, não se aventure a criar uma ambientação que levará anos para ser conluída. A história é sempre mais importante. H. P. Lovecraft criou um universo consiso, incluindo um panteão de deuses, culturas estranhas e idiomas obscuros e até um suposto livro de ocultismo de forma bem simplificada, evitando detalhes que tornariam suas novelas infindáveis, sempre focando no horror, tema de suas histórias.
10 – Aprenda a descrever sem ser chato
Faça exercícios de descrição. Descreva sua casa, sua rua, sua escola. E tente ser agradével, leve, sutil e divertido. Faça uma abordagem criativa, inusitada. Peça para pessoas lerem e procure saber se a leitura foi cansativa ou interessante.
11 – Estereótipos – use com moderação
Os estereótipos estão aí para serem usados. Eles trazem uma rápida associação ao leitor àquilo que você quer representar. Mas não abuse e não se limite a eles, principalmente quando se trata de uma cultura estrangeira. Lembre-se que o inusitado sempre é um ótimo remédio contra o clichê.
Estes são alguns passos para você se preparar e treinar antes de começar a ambientar sua história. Sabe de algo que ficou faltando aqui? Enriqueça essa lista através dos comentários e partilhe de minha fama, glória e meu marmitex de 1 real no almoço xD