Contos do Abismo – Cartas do Vampiro

16 comentários

Cartas do Vampiro

(Crônicas Sobrenaturais do Colégio Marista)

Trilha sonora: Lacrimosa – Alles Lüge

Carta - Conto Cartas com o Vampiro

Com mãos trêmulas e o coração na boca, ela abriu o envelope negro. Era mais uma carta misteriosa e romântica.

Rúbia já sabia que receberia uma carta do seu admirador secreto após o intervalo. Todas as noites encontrava um envelope preto dentro de seu caderno. Ela não fazia ideia de quem era seu correspondente, mas não se esforçava para descobrir. Sempre passava todo o intervalo na cantina, cheia de expectativa, conversando com as amigas.

Morria de vontade de espiar a sala de aula para ver quem colocaria o envelope em suas coisas, mas queria alimentar aquela sensação empolgante de mistério. Queria jogar o jogo dele. Além do mais, ele poderia muito bem pedir para outra pessoa colocar a carta em seu lugar, para não se expor. Era um verdadeiro romântico. Apenas um verdadeiro romântico escreveria cartas ao invés de e-mail ou tweets.

Desdobrou as folhas carmesim, onde estavam redigidas linhas douradas que não economizavam elogios à garota. Mas não era pelas belas palavras que Rúbia ansiava para ler, e sim sobre o maior receio do remetente – ele era um vampiro, e jamais poderia arriscar um encontro com sua amada.

Claro que nas primeiras cartas que recebeu, Rúbia não deixou de soltar alguns sorrisos irônicos ao ler a palavra vampiro. Pensou que fosse alguma brincadeira de alguém que soubesse que era fã de Ane Rice e Adriano Siqueira. Não seria difícil deduzir, afinal, sempre que achava que passaria despercebida pela diretora, usava roupas pretas por cima do uniforme, maquiagem escura e pesada e acessórios estranhos.

Mas não demorou para que as correspondências seguintes a deixassem atônita, com detalhes minuciosos sobre a vida como uma criatura da noite. Claro, tudo aquilo poderia ser inventado, mas vinha acompanhado de um desespero e sofrimento tão convincentes que aprisionaram a jovem garota em um mar de compaixão e compreensão. Ser um vampiro era tão doloroso e romântico que a fez se derreter, como quando leu Vampiro Lestat pela primeira vez.

Foi quando ele começou a adivinhar seus pensamentos que ela o levou realmente a sério. Ele respondia, nas cartas, com exatidão, às perguntas que ela fazia em pensamentos. Ela jamais imaginara que vampiros pudessem fazer isso, e achou que aquilo tirava um pouco do charme dessas criaturas, mas foi assim que ela descobriu muitas coisas sobre ele.

A primeira coisa foi que ele era um vampiro jovem, havia pouco tempo que fora “abraçado”, como gostava de se referir à sua transformação. Se sentia sozinho, solitário e assustado, e sabia, por Deus, sabia que ela seria a única a compreendê-lo, ajudá-lo. Não apenas por ela ser fascinada por filmes de vampiros, mas porque a conhecia. Era bondosa. Por isso a amava.


Rúbia observou todos os alunos do colégio que pôde. Qualquer um que fosse mais pálido que o normal poderia ser seu admirador. Mas se decepcionou quando veio a carta dizendo que nem tudo nas histórias sobre vampiros era verdade e a recomendação para não se apegar a nenhum estereótipo.

Foi aí que ela resolveu fazer perguntas propositalmente, com o pensamento. Perguntou quem ele era, mas a única resposta que obteve foi um longo e triste discurso sobre o medo de se aproximarem, de terem um contato físico – embora a amasse. Também leu algumas revelações preocupantes sobre uma forte e implacável Irmandade de Vampiros, que jamais permitiam que os humanos soubessem da existência deles. Algo parecido com um jogo que Rúbia gostava, chamado “A Mascara”. Tinha medo, dizia o jovem vampiro, de que ela, descobrindo sua identidade, fosse morta – ou pior, abraçada – pelos vampiros da Irmandade. Nenhum humano jamais poderia saber da existência de vampiros. Se isso acontecesse, deveria se tornar um deles. Se um vampiro quebrasse o sigilo, seria destruído.

Mas a curiosidade e entusiasmo de Rúbia era maior que o medo. Ficava imaginando quem seria, esperando que assim ele ao menos desse alguma pista. Podia ser qualquer um. Talvez fosse até uma garota, o que, pensou, não seria um problema. Rúbia já estava mais que apaixonada; estava enlaçada e enfeitiçada, fosse quem fosse. Estava louca para se entregar a qualquer um que se revelasse ser seu morceguinho misterioso. Ou morceguinha.


No dia seguinte, Rúbia não recebeu nenhuma carta. Procurou no caderno, no estojo, na mochila, em todo lugar. Nada. Talvez ele tivesse faltado à aula. Mas não houve cartas no outro dia. Nem no outro. Semanas se passaram sem nenhuma correspondência. Ela pensava nele, mandava “mensagens telepáticas”, e nada.

Estava desesperada. Emagreceu seis quilos e não conversava mais com ninguém. Suas twittadas eram melancólicas, beirando o mórbido. Suas amigas começaram a criticá-la, dizendo que estava obcecada com o novo galã de filme de vampiros da moda. Elas nem suspeitavam do quanto estava tão certas e tão erradas ao mesmo tempo.

Será que ele havia sido pego pela irmandade dos vampiros? Descobriram que revelara a ela a existência dos vampiros e fora pego. O que teriam feito com ele? Talvez ele fora punido e agora estava afastando-se de sua paixão. De qualquer forma, a culpa era dela. Rúbia martirizava-se por isso.

Então, um bilhete. Curto e simples, mas de forma alguma decepcionou a destinatária. As letras lindamente desenhadas em papel escarlate sugeriam um encontro. Sentiu o coração quase rasgando o peito. Como seria um encontro com um vampiro? Seria aquilo verdade? Ela sempre sonhara com aquelas criaturas sedutoras e fascinantes, e agora estava prestes a conhecer uma que a amava.

O encontro foi marcado no dia seguinte. Seria após a aula, em uma rua que nunca ouvira falar mas, segundo as instruções da carta, ficava a três quarteirões do colégio. Por um momento, hesitou. Não tinha medo, Rúbia confiaria sua vida a ele. Mas poderia ser uma armadilha da Irmandade. Ela sabia sobre a existência dos vampiros e precisava ser eliminada. Ou abraçada. A segunda opção não seria exatamente um problema. Pensando assim, se dirigiu ao endereço depois de se despedir das amigas, fazendo-as ficar preocupadas. Provavelmente seria a última vez que as veria.


A rua era escura e estreita, deserta. Todas as luzes públicas estavam apagadas. Rúbia quase recuou, mas o desejo de conhecer seu admirador vampiresco era tanto que avançou em passos vacilantes. Um vulto surgiu detrás de um poste.

Fique aí.

Era ele! Rúbia estava frente-a-frente com um vampiro! Estremeceu ao pensar o que seria dela e adorou a sensação de perigo iminente. Já não se importava muito se fosse mordida, transformada ou morta. Apenas desejava se entregar de corpo e alma para que fizesse o que quisesse.

É você?

A voz era trêmula, incontrolável. Rúbia pensou que ele perceberia sua emoção mas se lembrou que ele lia seus pensamentos, de qualquer forma. Ele sabia muito mais do que sua voz poderia denunciar. Sabia que ela lhe pertencia. Talvez por isso não houve resposta. Ela continuou.

Esperei tanto tempo pra te ver!

Eu também. Não podia mais viver sem falar com você pessoalmente, olhando em seus olhos.

Mas ainda não consigo ver os seus – disse Rúbia, se aproximando do vulto.

Você não iria querer me ver…

Por que? – interrompeu – Porque você é um vampiro e eu não posso saber disso? Porque você não pode ir contra as regras? Por ter que me transformar se eu souber quem você é?

Antes fosse essa minha maior preocupação…

Por Deus, isso é o que eu mais quero! Olhar seu rosto, seus olhos, e ser abraçada, me tornar imortal como você – desabafou, finalmente, dando passos decisivos em direção a ele. Mal teve tempo do vampiro se esconder. Rúbia estava a um palmo de distancia, expressão apaixonada, narinas dilatadas. Então ela finalmente viu quem era.

Ai meu Deus… – sussurrou ela, quase sem perceber.

Rúbia gritou. Não de medo ou susto. Mas de ódio.

Você não! Não, não, é mentira!

Eric, o grande, gordo, lerdo e estúpido nerd, com sua cara de abobalhado, olhava para ela, não surpreso, mas entristecido. Já esperava por essa reação de sua amada.

As classes de Rúbia e Eric tinham aulas de educação física juntas, e ela era a única que não ria das gozações e abusos que ele sofria dos colegas. Não ria porque ele era a única pessoa que Rúbia realmente desprezava. Sem motivo algum. Simplesmente por ser o que era – um perdedor que nunca tomava atitude alguma para mudar sua vergonhosa situação. Não era homem o suficiente.

Jamais cogitou que ele fosse o seu admirador. Por que deveria cogitar? Que tipo de vampiro fracassado abraçaria alguém repulsivo como ele? Lembrou-se das histórias em que vampiros apenas escolhiam os belos e sedutores para viver eternamente. Sabia agora que escritores de terror são mentirosos. Alguém cometera o imperdoável erro de eternizar a escrotidão que era Eric.

O vampiro, atrás do poste, se encolhia de vergonha. De alguma forma, sabia que aquilo aconteceria. Mas ainda assim, tinha alguma esperança de que desse certo, que Rúbia fosse a boa pessoa que ele via, que se compadeceria dele se conhecesse seus dramas e dilemas. Mas ela parecia longe de estar compadecida. Estava furiosa e avançava para cima dele, desferindo tapas e socos descoordenados. Eric, pateticamente, caiu, tentando proteger o rosto das unhas afiadas e dos acessórios metálicos nos dedos da agressora.

Enraivecida pela decepção, Rúbia pegou a tampa de uma grande lata de lixo e com ela atingiu o rosto do vampiro várias vezes. Ele ficou ali, caído, enquanto ela buscava algo mais eficaz e voltou com um tijolo. Uma grande poça se sangue brotava no chão enquanto Rúbia, gritando, esmagava a cabeça de Eric.

Se você realmente pode ler meus pensamentos, deveria saber que ninguém – ninguém – gosta de você. Não sabe o quanto eu te odeio?

Eric mal podia erguer a cabeça, mais devido à humilhação do que aos ferimentos. Muito menos pôde dizer alguma coisa. Apenas conseguiu chorar. Rúbia perdeu a paciencia.

Ah, por favor! E que tipo de vampiro emo é você? Vai ficar aí chorando? A culpa é toda sua!

Eu… pensei que… você gostando tanto de vampiros e… me conhecendo melhor… talvez nós pudessemos… você sempre sonhou com a eternidade, então eu… pedi para ser transformado… eu fiz isso por você…

Rúbia, com uma expressão de horror, o interrompeu, gritando.

O que? Eu? Eu e… você? Eternamente? Meu Deus… que… que nojo! Você é louco de fazer isso!

Por favor, Rúbia… não grite… eles podem estar aqui nesse exato momento.

Eric, o vampiro, estava tremendo de medo de estar sendo vigiado. Rúbia não deixou de pensar que ele se parecia mais com uma criança levada que comera doces antes do almoço e agora tentava esconder o pacote vazio dos pais. Quase sentiu pena daquela criatura.

Quase.

Espero sinceramente que eles estejam aqui.

Espera! Você precisa saber quem são eles… você… todos do colégio estão em perigo…

Rúbia deu as costas para Eric e foi embora.

Rúbia! No colégio… Tenha cuidado com a…

Eric se calou, apavorado. Inúmeras sombras surgiam ao seu redor e tomaram formas físicas. Rúbia não ouviu seus gritos abafados e não percebeu que vigiavam sua casa, enquanto rasgava seus posteres e livros de vampiros. Nunca mais queria saber deles.

******

Este conto faz parte da série Colégio Marista. São histórias fantásticas que ocorrem no cotidiano deste misterioso lugar povoado por alunos, professores e… coisas – vampirosbruxas,lobisomens,demôniosanjos,erêsinccubus,succubus e sabe Deus o que mais.

Download – Filme Metrópolis (Fritz Lang)

21 comentários

Cartaz do filme Metropolis

Faz tempo que não trago a vocês um filme, né? Dessa vez, eis algo obrigatório a vocês, que querem escrever histórias: a versão restaurada, com cenas perdidas até 2008, de Metrópolis (link para download no final do texto).

Metrópolis (, 1927) é um filme fascinante. Considerado por muitos o ápice do expressionismo alemão, ao lado de O Gabinete do Doutor Caligari, é uma produção que ultrapassou barreiras do gênero, sendo também um marco da ficção científica e se tornando influência até os dias de hoje. É impossível passear pela grande cidade de Metrópolis e seus prédios, máquinas e transportes voadores e não se lembrar de obras como Blade Runner e Matrix. Metrópolis também serviu de inspiração para a obra homônima de Osamu Tezuka, embora (segundo o próprio) nunca tenha assistido o filme.

A trilha sonora, a fotografia, a atuação dos autores, a iluminação, tudo é feito segundo o expressionismo alemão, o que significa que tudo é voltado para retratar o estado de espírito dos personagens. Nada é erro ou exagero, tudo é intencional para este fim.

O cenário é de encher os olhos até mesmo do mais acostumado a grandes efeitos especiais e computação gráfica. Prédios soberbos, máquinas imponentes e cerca de 30.000 atores figurantes compõe um cenário aterrador, onde os trabalhadores são explorados para manter a magnífica cidade funcionando para o deleite da elite.

Preciso dizer também que, como toda bem-sucedida obra de ficção científica, Metrópolis continua extremamente atual.

Cenário do filme Metrópolis

Nada mal para um cenário da época, heim?

Mas e a história, heim?

(pode conter spoilers)

A história é sobre Metrópolis, uma grande cidade (tipo, MUITO grande), no ano de 2026, autocrática, governada por uma espécie de empresário, o poderoso Joh Fredersen. No entanto, para que Metrópolis funcione perfeitamente, foi construída uma outra cidade no seu subsolo, a cidade dos trabalhadores, onde milhares de homens vivem e trabalham em condições sub-humanas. O papel desses trabalhadores é manter as máquinas funcionando. E essas máquinas mantém a cidade, que por sua vez, mantém seus cidadãos.

Joh Fredersen possui um filho, herdeiro de Metrópolis, que, ao se deparar com a situação em que se encontram os trabalhadores (que passou a chamar de irmãos), decide ajudá-los. Mas seu pai, não muito contente com os planos dos operários, temia uma rebelião e colocou um espião para vigiá-los.

Então surge Maria, uma mulher considerada santa pelos operários. Ela os reunia em túneis secretos da cidade dos trabalhadores para pregar sua crença.

“O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”.

Maria acalmava os homens mais revoltados com a crença do surgimento de um mediador que iria trazer a solução para os seus problemas. Ao saber disso, Joh Fredersen ordena a um cientista, que contruía um robô chamado “Hel”, que colocasse nele o rosto de Maria, e destruísse a união dos operários com discórdia e confusão causadas pela falsa “Maria”. Jon planejava que, dessa forma, os operarios se rebelassem, e assim ele tivesse motivos para responder com violência, acusando-os de insubordinação. Nada atual, não?

A partir daí, Hel se torna um simbolo da sensualidade, entretando e manipulando homens de Metrópolis, fazendo-os se matar por causa de sua sedução (é, nada atual também). E parte para sua missão de destruir a rebelião dos operários.

A melhor parte – simbolismos

Como não se poderia deixar de esperar de um filme expressionista, Metrópolis é recheado de ricos simbolismos. Só para citar alguns:

– As cenas que mostram os trabalhadores nas máquinas são primorosas. A trilha sonora, as engrenagens das máquinas e os movimentos dos que as operam são totalmente sincronizados e mostram a máquina como uma extensão do homem, ou vice-versa. Uma metáfora da tecnologia dominando o ser-humano e a primeira menção à singularidade, onde não existe mais distinção entre homem e máquina. Um conceito bem cyberpunk no início do século XX.

Maquinas de Metropolis

Máquinas e seus operários, quase um ser único.

– Quando o filho de Jon descobre a verdade sobre a situação dos trabalhadores na cidade das máquinas, ele tem uma espécie de delírio, onde uma grande máquina tomava a forma de Moloch, um monstro que engolia os operários, que eram levados por guardas e queimados vivos. Interessante mencionar que Moloch (ou Moloque) é um deus cananeu ao qual se sacrificava crianças, jogando-as no fogo. Uma interessante visão sobre a tecnologia, o capitalismo e o Estado.

Moloch de MetrópolisMOLOCH! 0____o tenso!

– Maria, quando aparece pela segunda vez no filme, é mostrada como uma santa. Seu nome é bem simbólico, e ela é retratada com toda a pureza e luz que se espera da Virgem Mãe. No entanto, ela exerce um papel muito mais interessante, o de profeta. Ao falar ao povo, trazendo uma espécie de mensagem de esperança inspirada por algo semelhante a uma revelação divida, Maria é tida como sábia, autoridade, e ninguém discute com ela. Ela sabe do que está falando e faz previsões sobre o que irá acontecer: um mediador virá e dará fim à opressão.

Maria, de Metrópolis

Maria :D

– Por sua vez, “Hel”, sua contraparte, o andróide, é a segunda menção à singularidade mostrada como demoníaca. Além do nome remeter a significados óbvios, ela é mostrada sentada em frente a um pentagrama invertido. O cientista, ao dar-lhe a aparencia de Maria, é mostrado mais como um alquimista do que homem da tecnologia moderna. E quando Hel assume seu papel no mundo, é apontada a Grande Meretriz do Apocalipse.

A Meretriz Maria/Hel, de Metrópolis

Hel, o robô prestes a ganhar a aparência de Maria

A Meretriz Maria/Hel, de Metrópolis

Hel, a Meretriz. Que coisa linda, heim?

– Outro simbolismo, que pode nos parecer clichê nos dias de hoje, mas formidavelmente aplicado, é Babel, a grande torre de Metrópolis. Dessa forma, a cidade é mostrada como uma Babilônia, que, no livro do Apocalipse, surge com a Grande Meretriz/Hel para beber o sangue dos homens.

A torre de Babel, de Metrópolis

A torre de Babel.

– E, por fim, o principal símbolo e metáfora do filme, o epigrama “O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”, talvez fale sobre a sociedade, mas também faz com que Metrópolis ganhe inúmeras interpretações. Além de ser um filme sobre uma cidade, suas máquinas e domínio exercido pelos poderosos, pode também ser visto como uma metáfora a respeito do homem como indivíduo. Não basta usar apenas a razão para conquistar seus objetivos com as mãos, tudo irá desmoronar se não houver o intermediário, o coração, símbolo da boa consciencia, discernidor do bem e do mal.

Não falarei mais dos simbolismos que encontrei para não extender muito. Se você quiser, comente aqui quais encontrou e o que achou que ainda é atual em nossos dias.

Making of Metrópolis

Os grandes efeitos especiais. Pra que CG? :)

Clique para download do filme Metrópolis de Fritz Lang e aprecie.

Artistas fazem, hum… homenagem… ao Metrópolis.

E como curiosidade, ai vão algumas “homenagens” (ou coincidências muito grandes) de artistas ao filme. Pra começar, vejam o clipe de uma das mais famosas músicas do Queen, Radio Ga Ga, que usa cenas do filme:
http://www.youtube.com/v/cS1hrchLlDg 

E umas imagens:

Fred Mercury colocando seu rosto em Hel, no Clip de... Radio Ga Ga

Fred Mercury com seu rosto em Hel, no Clip de... Radio Ga Ga.

Lady Gaga e Metrópolis

Lady Gaga interpreta Hel de Metrópolis?

Beyonce ficou bem parecida com Hel

Beyonce ficou bem parecida com Hel.

Conhece outras homenagens artísticas? Mande pelos comentários que eu posto aqui.

Confiram também esse excelente video fan-made (feito por fã) de Poker Face, da Lady Gaga, com cenas do filme (contém spoilers, assita ao filme antes para entender melhor o vídeo):

(Mini)Contos do Abismo – A Sombra na Sarjeta

Deixe um comentário

A Sombra Na Sarjeta*


Todos diziam que era o mendigo mais repulsivo já visto. Rosto escondido em um emaranhado confuso de cabelo e barba, conversava com uma lata de lixo. Os executivos e prostitutas tinham em comum uma careta de nojo e concordavam: cheirava muito mal.

Era noite. Ele interrompeu seu diálogo com a lixeira e começou a andar pela Sé. Puxava seu carrinho de madeira onde carregava entulhos para vender por alguns centavos, o que garantiria um gole de cachaça. Resmungava algo incompreensível. Ninguém da mendicância local jamais entendeu palavra alguma do que dizia. Parecia outra língua.

Afugentava a todos com seu aspecto grotesco, exceto os comerciantes. Aqueles que vendiam lanches tentavam enxotá-lo, para que os fregueses não perdessem o apetite com o mau cheiro. Já as que vendiam o corpo, tinham medo de lhe dirigir a palavra. Mas tinham medo de qualquer um, pois havia um rumor sobre o desaparecimento de mulheres de “vida fácil”.

O mendigo era apenas uma sombra na sarjeta quando escolheu a prostituta que considerou mais saudável e jovem. A rua era deserta, o pescoço macio. Sorrindo, ele exibiu suas presas que cresciam, grandes e apodrecidas. A mordida foi doída, pois os dentes há muito não eram tão afiados quanto nos bons tempos. Sangue quente e pulsante derramou dentro da boca fétida. A vítima gritou mais do que ele gostaria. Debatia-se e ele não conseguia controlá-la.

Irritado, quebrou-lhe o pescoço. Não podendo beber sangue de defunto, pestanejou. Teria que matar mais do que de costume para saciar a fome.

Saudades dos velhos tempos de glamour.

*Esse miniconto foi o segundo colocado no concurso do blog Masmorra do Terror.

Contos do Abismo – Morte 2.0

8 comentários

Morte 2.0

(Crônicas Sobrenaturais do Colégio Marista)

Trilha sonora: Therion – To Mega Therion



A professora Taís não queria demonstrar o mal-estar diante dos alunos.

Disfarçou bem durante toda a sua aula de química, dando uma atividade qualquer em grupo para a que a classe não prestasse atenção nela.

Mas Clarisse prestava muita atenção na professora. Ela e todos os rapazes que não se preocupavam mais com as notas do que com suas fantasias que seriam compartilhadas entre os mais confidentes durante o intervalo. Eles achavam justificável ter química como matéria favorita por causa da professora; afinal, ela não era apenas linda como também se vestia muito bem e usava um perfume embriagante. Era comum os garotos irem até a mesa da professora, com caderno na mão e a desculpa de precisar tirar alguma dúvida, apenas para sentir seu cheiro e espiar os decotes mais de perto. Era a diva da oitava série. A ousada desafiadora das regras do Colégio Católico Marista, para o desespero das madres que o dirigiam.

Já Clarisse a encarava de outra forma. Considerava o comportamento masculino de sua classe um absurdo, mas pior ainda era a professora que, ao invés de se dar ao respeito, usava decotes e maquiagem sedutora para aliciar adolescentes imberbes.

Taís não reparou se alguém estava olhando ou não. Sentia náuseas e dores de cabeça. Repentinamente, levou a mão a boca e correu em direção à porta. Viu que não teria tempo de chegar ao banheiro e vomitou ali mesmo, no cesto de lixo, todo o seu café da manhã. E sangue. Muito sangue.

Quando ela foi levada para o hospital, o tipo de comentário na sala era de que a professora de química estava grávida, o que decepcionou os garotos mais sonhadores. Mas todos ficaram satisfeitos por ganharem uma aula vaga.

Clarisse correu para a biblioteca com seu netbook na mochila. Não acreditava que aquilo funcionara! Empolgada, acessou pelo sinal wi-fi do colégio o site que algum perfil anônimo do twitter lhe indicara semanas atrás: O Voodoo Online.

Voodoo Online era uma espécie de comunidade virtual. Como Clarisse sempre fora viciada em Second Life e Colheita Feliz, teve muita facilidade para entender o funcionamento daquela que se tornara a página inicial do seu navegador. Voodoo Online oferecia todas possibilidades da religião Voodoo, mas sem a necessidade de adquirir as ferramentas necessárias – estava tudo ali, na tela do computador. Com um clique, Clarisse podia escolher o que seria necessário para o novo ritual. E o melhor de tudo: interagir com usuários do mundo inteiro.

Fez o login no site e esperou o ambiente de realidade virtual em 3D ser carregado. Seu avatar, uma mulher adulta, surgiu na sala onde realizava os rituais. Selecionou “Farinha de Milho” na janela de ítens e “Pincel” na barra de ferramentas. Com a farinha, desenhou um emblema no chão. Precisava de mais “Rum”. Acessou a página da comunidade do site e comentou rituais de suas amigas e até participou de um deles, tudo para juntar pontos. Com os novos pontos, chamados voduns, ela pôde navegar com o avatar pela tenda do NPC Hugan e comprar uma garrafa rum e velas vermelhas. Ainda sobraram alguns voduns que colocou no cofre para futuramente adquirir o livro de feitiços nível seis.

Levou seu avatar novamente para sua sala e espalhou o rum sobre o desenho que fizera com a farinha de milho. Abriu o player e selecionou uma música para iniciar a seção. Músicas eram necessárias no ritual e custavam uma grande quantidade voduns, mas podiam ser adquiridas em mp3 por dinheiro real pago através do paypal. Clarisse deixara de lanchar muitos dias no colégio para ter uma coleção delas em seu iPod.

Sons de tambores e cantos africanos foram entoados. Clarisse usava fones de ouvido para não chamar atenção de ninguém. Convidou algumas amigas adicionadas em seu perfil que estavam online no momento e vestiu seu avatar com a roupa apropriada. Não eram muito boas, mas teria melhores quando seu perfil atingisse um nível mais alto. Cada ritual no Voodoo Online lhe daria uma quantidade de experiência, que podia trocar por voduns ou para subir níveis. Quanto maior o nível do usuário, maior os níveis de livros de rituais poderia adquirir. Clarisse estava no nível cinco.

Selecionou uma dança específica entre as ações básicas do avatar que vinham no pacote gratuito para iniciantes. Não demorou para que o avatar de Legba, o intermediário dos espíritos, surgisse em sua tela.

Na hora do sacrifício, Clarisse selecionou uma criança virtual recém-nascida que lhe custou 200 voduns. Selecionou a adaga na barra de ferramentas e fez cortes no bebê com alguns cliques. Abaixou o volume do fone de ouvido, pois o som era estridente. A criança eletrônica deveria sofrer tanto quanto Clarisse gostaria que a professora de química sofresse, além de gritar para que os espíritos acordassem. Havia uma barra que mostrava o nível de sofrimento, variando do “confortável” ao “insuportável”.

Abriu um corte no abdome do bebê e tirou as tripas. Colocou-as, arrastando com o mouse, dentro do item “boneco de cera”, que costou 20 voduns. As agulhas estavam prontas para ser usadas. Tudo estava funcionando e o loa surgiu na sala virtual. Clarisse enviou uma foto escaneada da professora e digitou: Taís de Abreu.

No dia seguinte, o colégio estava em luto. A professora Taís morrera no hospital, um dia depois de ser internada. As freiras sussurravam pelos cantos como o castigo de Deus fora implacável com a agitadora indecente.

A oitava série B deveria ter aula de química, mas sua professora substituta ainda não havia sido escolhida. Os alunos foram dispensados para um intervalo. Clarisse, sorrindo, correu até suas amigas dizendo o quanto o Voodoo Online era fantástico. Elas riram satisfeitas, mal acreditando o que as entranhas de uma criança virtual, feita de bytes, pixels e polígonos eram capazes de fazer a alguém.

Uma das garotas, evangélica, fez menção de questionar se o que faziam era correto. Clarisse lhe explicou, com poucas e convincentes palavras, que “tudo o que você fizer, seja bom ou ruim, é plano de Deus”. A evangélica sorriu.

Olharam para os meninos decepcionados com a ausência da mulher que habitava em suas fantasias. Em poucos dias, Clarisse e suas amigas teriam voduns o suficiente no Voodoo Online para adquirir o “Livro Nível Seis – Feitiços de Amor”. Então, não haveria professoras sensuais que pudessem roubar os olhares e sonhos dos rapazes.

******

Este conto faz parte da série Colégio Marista. São histórias fantásticas que ocorrem no cotidiano deste misterioso lugar povoado por alunos, professores e… coisas – vampirosbruxas,lobisomens,demôniosanjos,erêsinccubus,succubus e sabe Deus o que mais.


Download e resenha do Dorama Life – Bullying Nipônico

25 comentários

Dorama - Life

Life é dorama (ou J-drama, são noveletas japonesas) baseado em um mangá da autora Keiko Suenobu. Apesar do traço ser Shoujo e as personagens serem 95% femininas, não é uma história romantica, nem fofa, meiga ou coisa do tipo. É barra pesada.

O tema de Life é Ijime (Bullying, em Japones). A história é sobre os maltratos e abusos que acontecem em um colégio de gente riquinha e metida.

Ayumu é uma garota meio lerda, cuja melhor amiga tenta suicídio por sua causa. Traumatizada, ao chegar no novo colégio, não se aproxima das pessoas para não decepcionar mais ninguém. Mas para sua surpresa, Manami, a garota mais popular da sala e lider de um grupo de garotas, faz amizade com ela e se torna sua melhor amiga.

Porém, depois de um mal entendido, garotas começam a transformar a vida de Ayumu em um inferno. Vou parar por aqui para evitar spoilers.

A série tem 11 episódios e não tem “papas na língua” ao tratar de bullying. No Japão, como em qualquer outro lugar, essa pŕatica é comum nas escolas e o silêncio potencializa as consequencias. Life mostra essa realidade com precisão, as vezes até surpreendendo aqueles que não tiveram um contato muito grande com bullying. Exemplo disso são as cenas de abuso físico, sexual, psicológico, não apenas entre os alunos mas na própria instituição de ensino. É tão forte que os pais japoneses pressionaram a emissora a parar a transmissão da série por “excessividade de realismo”.
Dorama - Life
Meus dois centavos:
Foi um dos meus doramas favoritos, sem dúvida. Não só por ter conhecido muito bem a prática de bullying na infância, mas pela forma como o tema foi abordado. Não há coisas bonitinhas para enfeitar e disfarçar, não há florismos, romances, devaneios e soluções fáceis e mágicas para comover o público. É a verdade nua e crua; é aquilo e ponto final. O principal e talvez o pior de tudo é o silencio, o fechar de olhos da sociedade para o assunto. FIngir que não vê é melhor do que admitir e prejudicar a imagem.

A série surpreende com suas reviravoltas. É muito interessante acompanhar as motivações e segredos de cada personagem, mudando a direção da história. O roteiro é simples, mas não precisa de mais do que aquilo ali.

A mensagem da série é clara: Parem de fingir que o bullying não existe e façam alguma coisa. A determinação que surge nos personagens no final da série é a unica coisa que se aproxima da ficção e da esperança para quem assiste.

Trilha sonora contagiante, um bom ritmo para as cenas de ação e bom para se ouvir enquanto escreve xD

Quem quiser assistir e filosofar sobre o tema, estamos aí.

Trailer (SPOILERS!):

Dorama - Life

Dorama - Life

Download dos episódios:

Episódio 1 – http://www.megaupload.com/?d=0MAMD5L7
Episodio 2 – http://www.megaupload.com/?d=KEJEA78S
Episodio 3 – http://www.megaupload.com/?d=CYJ4GF3I
Episodio 4 – http://www.megaupload.com/?d=XOWYHR5Y
Episodio 5 – http://www.megaupload.com/?d=B2806G5V
Episodio 6 – http://www.megaupload.com/?d=NFP82FUL
Episodio 7 – http://www.megaupload.com/?d=SFAMZ77M
Episodio 8 – http://www.megaupload.com/?d=7TJVK7Y0
Episodio 9 – http://www.megaupload.com/?d=MTEVSMY2
Episodio 10 – http://www.megaupload.com/?d=DVMEMOU2
Episodio 11 – http://www.megaupload.com/?d=WH5D0JC9